Fotos: Álvaro Taschetto
Em pouco mais de um mês, criminosos voltaram a atacar o município de Mata, que tem cerca de 5 mil habitantes. Desta vez, o ataque começou por volta das 3h30min em duas agências bancárias e seguiu por duas lojas, uma lotérica e um clube recreativo. Em 1º de fevereiro, a cidade foi alvo de uma quadrilha que explodiu duas agências bancárias e arrombou uma terceira.
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De acordo com o delegado regional Charles Nascimento, informações preliminares apontam que quatro ou mais bandidos chegaram em um carro branco e invadiram a Sicredi, o Banco do Brasil, a loja Becker, o Clube Matense e uma lotérica. Desta vez, eles não usaram explosivos, mas quebraram os vidros com disparos de arma de fogo e marretas.
A quadrilha roubou um revólver e um colete balístico da equipe de segurança do Sicredi; preliminarmente, muitos celulares, um notebook e uma motoserra da loja Becker; dinheiro do Clube Matense e cerca de R$ 400 da lotérica. Logo após, eles fugiram. A perícia ficou no local até por volta das 8h. Não houve feridos. Barreiras foram montadas pela Brigada Militar, que busca pelos bandidos.
_ O pessoal da matriz da loja está chegando para fazer o levantamento completo, mas sabemos que eles levaram muitos celulares e notebook. Nos contaram que os bandidos pegaram os travesseiros da loja e colocaram todos os celulares dentro. Ele ficaram de 8 a 10 minutos aqui _ relatou o gerente da loja Becker, Vinicius Vargas.
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INVESTIGAÇÃO: BANDIDOS DA REGIÃO
A investigação dos ataques a bancos nas cidades do Interior é de competência do Departamento Estadual de Investigação Criminal (Deic), da Polícia Civil. Nesta manhã, o Diário conversou com o delegado do Deic João Paulo de Abreu.
_ Além da investigação dos casos, nossa preocupação é deixar a população dessas cidades cientes de que os casos estão, sim, sendo investigados. Trabalhamos um pouco longe desses municípios, mas estamos atentos a todos os fatos. No caso de Mata, o que podemos dizer é que a quadrilha não era da cidade, mas provavelmente teve a ajuda de bandidos daí com informações e até abrigo. No caso dos ataques de Braga, por exemplo, um traficante da cidade estava entre os bandidos presos. Acreditamos que isso esteja ocorrendo _ afirmou o delegado, que pede à população que repasse qualquer informação para o fone do Deic 0800-15102828.
Conforme o delegado, as quadrilhas estão adotando uma outra dinâmica. Os bandidos atacam as agências bancárias e, não conseguindo levar nada, eles partem para outros alvos, como ocorreu em Mata. O que se percebe, é que os criminosos não são mais especializados em um só tipo de crime. A estratégia do Deic é conseguir provas contundentes, por meio de peritos, para que, quando presos, os bandidos se mantenham na cadeia. A Secretaria Estadual de Segurança afirmou, nesta manhã, que 9 policiais civis vão reforçar o departamento policial para atuar na investigação dos casos.
A delegada Débora Poltosi, que responde pelo município, disse que é muito cedo para relacionar os dois ataques na cidade ao mesmo grupo de assaltantes. Porém, ela também não descarta a possibilidade.
CIDADE SEM SERVIÇOS BANCÁRIOS
A população de Mata está sem atendimento bancário. As agências do Banrisul e do Banco do Brasil ainda estão sendo consertadas do último ataque em 1º de fevereiro. Agora, a agência do Sicredi também está sem funcionar. As cidades mais próximas são São Vicente do Sul e São Pedro do Sul.
SEM POLICIAMENTO
O prefeito de Mata, Sérgio Bruning, afirma que a cidade não conta com plantão de policiais à noite. Há apenas cinco policiais militares na cidade que trabalham no horário do meio-dia à meia-noite.
- Estou tentando marcar audiência com o secretário de segurança (Cezar Schirmer, ex-prefeito de Santa Maria). A gente nota que cidades maiores estão sendo mais aparelhadas. Então, nas cidades do interior, eles (os criminosos) chegam meia-noite, não tem ninguém, não tem Brigada, nem segurança particular. Eles ficam tranquilos e fazem o que querem. Nós temos um acesso de 12 quilômetros da BR-287 até o município. Os bandidos chegaram a atar arame na ponte e encher a estrada de miguelitos. Como não tem movimento policial, depois dos ataques eles conseguem fugir em direção ao interior. A gente pede para o governo, mas não estamos sendo atendidos, e a população está apavorada - afirma o prefeito.
Conforme o prefeito, logo após o crime, a Brigada Militar de Santiago foi acionada, mas levou cerca de uma hora para percorrer os 100 quilômetros que separam os dois municípios.
- O clima está pesado, foi uma noite de horror de novo. Embora eu more um pouco distante do local, ouvi os tiros. Acho que levou uma hora até a Brigada chegar, mas pra nós foi como uma eternidade - completa Bruning.
ENCONTRO COM SCHIRMER
No começo desta tarde, Bruning esteve reunido, em Mata, com o prefeito de Santiago, Tiago Gorski Lacerda (PP), que preside a Associação dos Municípios da Região Centro (AM Centro). Os dois trataram da segurança na região. Logo após o encontro, Tiago viajou para Porto Alegre para tentar se encontrar pessoalmente com o secretário da Segurança Pública, Cezar Schirmer. A intenção será cobrar ações concretas, por exemplo, em relação ao aumento do policiamento nos municípios da região. Em maio do ano passado, durante um seminário sobre segurança pública em Santiago, Schirmer prometeu aos prefeitos reforçar o policiamento nos municípios. Porém, segundo Tiago, nada de efetivo foi feito.
AUDIÊNCIA PÚBLICA
Segundo o vereador Alessandro de David (PMDB), no dia 7 de fevereiro, poucos dias depois do primeiro ataque da cidade, foi realizada uma audiência pública no município para pedir por mais segurança, mas poucas pessoas compareceram. David mora a cerca de três quadras de onde aconteceram os ataques desta madrugada, e ouviu o barulho de um disparo de arma de fogo.
- Eu estava dormindo e ouvi um dos tiros, mas pensei que pudesse ser, até mesmo, bombinhas, não imaginava a proporção dos ataques - afirma o vereador.
O QUE DIZ A BM
Em nota oficial enviada para o programa Atualidades, da Rádio Gaúcha, na manhã desta quarta-feira, o comandante-geral da Brigada Militar, o coronel Andreis Silvio Dal'Lago, afirmou que a corporação é sensível à demanda do prefeito e reconhece as dificuldades dos pequenos municípios. Na nota, o comandante afirmou que já tem aprovação da Secretaria Estadual de Segurança para o reforço na segurança no interior com a formação dos novos policiais militares, em abril.